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Nutrição pode favorecer a agressividade 

Estudo polémico apresentado na New Scientist

Pobreza, falta de escolaridade e núcleos familiares destruturados são frequentemente apontados como factores que desencadeiam a delinquência. Agora, um grupo de cientistas britânico afirma que grande parte do comportamento anti-social tem como base a má nutrição. O estudo sugere que uma dose diária de vitaminas, minerais e ácidos gordos poderia ajudar a conter o crime.

Trata-se de uma afirmação ousada, recebida com cepticismo. Afinal, se os cientistas sustentarem estas afirmações, está encontrada uma maneira fácil de combater a criminalidade.
O estudo foi financiado pela organização filantrópica Natural Justice, que investiga as causas do comportamento anti-social. Em declarações à New Scientist, Bernard Gesch, do departamento de fisiologia da Universidade de Oxford, explicou alguns dos tópicos que podem gerar controvérsia. «As pessoas presumem que o comportamento anti-social é inteiramente um problema de personalidade», afirmou. «Mas existe todo um substrato de factores fisiológicos que pode ser medido cientificamente.»
Para o especialista, muitos presos sofrem simplesmente de «má nutrição subclínica» - não tão grave que cause escorbuto, por exemplo, mas capaz de provocar uma série de comportamentos anti-sociais.

O programa de pesquisa da Natural Justice começou em 1988, quando Gesch persuadiu vários juizes da Cúmbria, noroeste da Inglaterra, a deixá-lo testar alguns suplementos alimentares num jovem delinquente que já tinha sido submetido a várias tentativas de reabilitação. Segundo o especialista, o resultado foi uma melhora repentina.

Num segundo estudo de caso, a Natural Justice diz ter interrompido a carreira criminosa de uma rapariga ao elevar a dose diária de micronutrientes para o mínimo recomendado pelo governo.

O último estudo da organização foi feito durante nove meses numa instituição para delinquentes juvenis na cidade de Aylesbury. Os investigadores acompanharam o comportamento de 231 jovens em regime de internato, analisando o número de queixas de mau comportamento que recebiam dos guardas do estabelecimento.

Metade dos reclusos tomou doses diárias de 28 vitaminas, minerais e ácidos gordos. O restante recebeu comprimidos de placebo (medicamento inócuo). Os cientistas usaram métodos rigorosos de estudos médicos para assegurar a fiabilidade dos dados.

O resultado foi estrondoso: os jovens internos que receberam o suplemento alimentar reduziram cerca de 37 por cento as agressões, comparados com o grupo do placebo. Quando o teste terminou, os níveis de violência voltaram ao normal.

Quando o estudo saiu na revista especializada «British Journal of Psychiatry» (bjp.rcpsych.org), no início do ano, a Natural Justice convocou uma conferência de imprensa. Seguiu-se uma série de reportagens sobre as denominadas «pílulas anticrime», algumas não só chamavam a atenção para a experiência na prisão, mas também para a possibilidade dos níveis crescentes de violência na sociedade fossem causados por má nutrição.

Como era de esperar, muitos cientistas pedem cautela. Chris Bates, da Unidade de Nutrição Humana do Conselho de Pesquisa Médica, em Cambridge, Reino Unido, apresenta uma visão típica: «É preciso cepticismo até que os dados sejam confirmados por um ou mais estudos», alertou.

David Benton, da Universidade de Swansea, que estuda a ligação entre dieta e humor, concorda: «A prisão é um cenário que amplifica o efeito da dieta, porque o ambiente é semelhante para todos os reclusos. Assim, as mudanças na dieta têm um impacto que não seria aparente no mundo exterior».

Muitos cientistas reputados, no entanto, acreditam que o estudo tem implicações profundas. Peter Rogers, professor de psicologia na Universidade de Bristol, diz que o efeito Aylesbury é um «resultado memorável e potencialmente muito importante».

Estudos similares têm sido feitos ao longo dos últimos 25 anos. Stephen Schoenthaler, criminologista da Universidade Estadual da Califórnia em Long Beach, um dos principais pensadores da ligação entre criminalidade e dieta, completou três ensaios com resultados semelhantes. «O estudo de Aylesbury verifica o que proponho há 20 anos». Os estudos de Schoenthaler foram acusados de empregar metodologia errada.

Juliet Lyons, do Fundo de Reforma das Prisões do Reino Unido, ressalva que qualquer contacto carinhoso com um adulto - mesmo uma conversa rápida durante a administração do comprimido- pode ter impacto no comportamento.

Gesch, no entanto, diz que a experiência foi desenhada para eliminar essa possibilidade. O grupo de controlo teve exactamente a mesma quantidade de contacto ao tomar as pílulas, mas não apresentou melhora significativa.


A verdade é que o estudo de Gesch não foi publicado nas revistas «Nature» e «Science». Diz o texto da New Scientist (NS) que o facto dessas revistas acharem que a Natural Justice tem razão ocultas para mostrar a ligação entre crime e dieta. Uma fonte da «Nature» disse à NS que a revista raramente publica estudos psicológicos - especialmente quando não exploram as bases biológicas de um comportamento particular.

Embora os nutricionistas admitam que sabem muito pouco sobre como a dieta afecta o cérebro, concordam que os ácidos gordos ômega-3, encontrados em peixes oleosos como o atum, são importantes para a produção de serotonina, o neurotransmissor responsável pelo humor. «É plausível que ao suprir esses ácidos gordos essenciais da dieta dos reclusos tenha melhorado o funcionamento de seu sistema serotoninérgico», afirmou Joseph Hibbeln, do Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool (EUA).

As vitaminas geralmente ajudam a acelerar reacções químicas no cérebro. Por exemplo, a vitamina B6 é importante para a síntese de vários aminoácidos, enquanto a B3 é essencial para gerar energia. Segundo Glesch, «se a dieta de alguém é pobre, o seu cérebro não vai funcionar devidamente». A Natural Justice está agora a planear um estudo para tentar esmiuçar como tais micronutrientes afectam a fisiologia.

Traduzido e adaptado por:

Paula Pedro Martins
MNI-Médicos Na Internet

29 de Abril de 2003
 Conteúdo ainda não aprovado pela SPCNA.
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