Em 1977, Portugal mudara consideravelmente o seu paradigma alimentar: importava-se carne de vaca a rodos, os retornados dedicavam-se à avicultura e suinicultura e o mundo rural praticamente não respondia aos novos imperativos do consumo alimentar. Nesse ano, António Barreto faz constituir um grupo interministerial para lançar as bases da educação alimentar. Portugal entrara na sociedade de consumo, mas precisava de regras. É no contexto das actividades desse grupo que, progressivamente, se foi destacando um médico endocrinologista do Porto, Emílio Peres. Cedo se afirmou como líder, indo directo à questão central das necessidades da população na dimensão da saúde, pela sua capacidade de comunicar conhecimentos de nutrição na linguagem do povo e por ter entusiasmado milhares de professores a tratar os assuntos da alimentação equilibrada como um dos eixos do desenvolvimento humano. Primeiro, os professores, mas depois mais vastos auditórios, onde ele provou os seus dotes magistrais de comunicador. Emílio Peres foi o fundador da educação alimentar em Portugal. Concebeu, escreveu e comunicou nos mais diversificados meios as grandes mensagens que ainda hoje estão gravadas na memória das pessoas: «Não há pequeno-almoço, há primeiro almoço»; «saber comer é saber viver»; «comer variadamente e com equilíbrio»; «viva o coffee break que dá saúde e vida». Paladino da causa, percorreu o país com a roda dos alimentos, dirigindo-se a professores primários, pessoal de saúde, falou em cantinas e bufetes escolares, em auditórios de autarquias, nas cooperativas e nas organizações de mulheres. Rádio e televisão pediam-lhe frequentemente depoimentos.
A sua base de trabalho foram as 10 regras de ouro da alimentação saudável, apelando, entre outras, a uma alimentação completa, ao aumento do consumo de leite e lacticínios, a não se passar mais de três horas e meia sem comer. Emílio Peres contribuiu para revolucionar as ciências da nutrição, dirigiu colecções de saúde, escreveu os primeiros best-sellers da divulgação alimentar, como «Alimentação e saúde», «Saber emagrecer» ou «Bem comidos e bem bebidos».
Emílio Peres é cronista do Jornal de Notícias Fonte: Jornal de Notícias |